Uma semana após o fechamento das Semanas de Moda brasileiras, é chegado o momento de um balanço a respeito das tendências, nem tão novas, para o verão 2011. Como citado, esta é uma estação sem muitas alterações, são sempre florais, leveza e shapes amplos. Diferentemente do inverno, no qual a experimentação é maior, o verão possui uma assinatura, um código. Então, por que se desfilar uma coleção já vista, de certo modo? A graça do verão é justamente verificar como os estilistas releem os clássicos da estação… florais na Ellus, com um clima mariners e hawaiano (again), e na Colcci. Apresentadas em diversos tamanhos, é preferivelmente optar pela elegância da estamparia clean das flores miúdas, chamado de Liberty, lembrando tecidos de decoração de outrora. Os jeans chegam escuros, desgastados, manchados e até em look total, ai a lavagem tem de ser a mesma, como se fosse conjunto. Na alfaiataria, a Ellus propôs uma cartela linda, para eles em rosa-chocking e uma incrível, talvez não usável, dockside versão ankle boot.
O aclamado desfile feminino de Herchcovitch, com sua explosão de cores, dá o tom do verão . Em referência às artes plásticas, trouxe na passarela uma coleção primorosa e uma aquarela vista em peças de cetim, como vestidos, macacões, saias e algumas calças, em corte capri. Nos vestidos destaque às mangas arquitetônicas. Um desfile que começou monocromático e que ao decorrer apresentou um splash de lilás, verde-água, pink e turquesa, uma forma de representar o trabalho dos artistas expressionistas Pollock, Mark Rothko e Barnett Newman. Assim, a estação pede um abuso de cores: neutras, desde os pastéis, tons de sorvete, tons de macarron, como pinceladas de cores vibrantes, fluo. E por falar em fluorescente, a Neon explorou recortes anatômicos em vestidos de neoprene, o hit dos tecidos para o verão; já visto nas duas edições da Rosa Chá. O estilista Dudu Bertholini traz tubinhos, perfeitos substitutos para os bandage dress do inverno. É a moda surf invadindo a cidade.
E mesclando a moda surf com a bossa dos 1960’s, temos Reinaldo Lourenço. Se a italiana Fendi nos trouxe às rendas em Art Nouveau, Lourenço, que também trabalhou com o mesmo tema em seu desfile das bailarinas, dessa vez suas criações, em silhueta confortável, dão-se em recortes aerodinâmicos de automóveis e textura de flores em organza, ultrafemininos. E é essa bossa sessentista e as formas retas neominimali dos 1990’s os substitutos do glam-rocker-podre-chic oitentista. Geometria nas apresentações da Calvin Klein, simples, limpa, monocromática. Silhuetas suaves, tecidos plastificados, sci-fi, seja na Tufi Duek, seja na Osklen e seus modelos que pareciam habitantes de Atlântida. Com o tema Oceans, Oskar Metsavaht, desenvolveu roupas (incríveis) a partir de tecidos naturais, como o linho, algodão e cambraia. Tingindo a SPFW em tons de azul, manual ou artesanalmente, a coleção emerge com modelagem ampla, fresh, confortável, gladiadora revisitada em bota de lona e corda, detalhes em prata na forma de barbatana de tubarão, destaque às mochilas deluxe, como a de píton roxa.
Se no inverno a barra das calças eram dobradas, agora, ou melhor, em dezembro, o estilo carrot, já sensação no inverno de 2009 nas passarelas de Yves Saint Laurent, são os itens-chaves dos desfiles brasileiros. Infelizmente a moda skinny, que inovou o guarda-roupa masculino graças à Dior, sai à francesa – já estava perdendo força – e a carrot, juntamente à sarouel, são as calças do momento. A moda pede conforto e amplitude. Elas têm o gancho mais baixo, sendo que a calça-cenoura vem com cintura alta com pregas no quadril, caindo justa e curta, em comprimento de capri, podendo, ainda, manter a barra dobrada. Aposte nas cores neutras com aviamento em dourado ou ouse, como a coleção masculina de Herchcovitch e aposte em listras horizontais com detalhes em neon. Ah! e não só calças, mas bermudas, também mais curtas, veem em cortes mais amplos, para eles.
E assim é o vai e vem da moda, anote para não se perder: sai os anos 1980’s e entra os cortes retos, amplos, evasê, futuristas e femininos das décadas de 1960’s e 1990’s. Aposte em tecidos naturais, leves e transparentes, nas cores os tons pastéis e suaves com uma brincadeira de fluo aqui e ali. E o de praxe, as estampas florais, preferivelmente x-small, achei cafona os big florais da Colcci em jeans. Ombros arquitetônicos, arredondados, volumosos; o drama vêm equilibrado. Do inverno, apenas um preto pincelado em João Pimenta, Iódice e Glória Coelho (óbvio). Os acessórios acompanham o neominimali com bolsas geométricas, como a da Maria Bonita ou a baby bag quadrada da Forum. Quando o sol vier, aposente seus wayfarers, é a hora e a vez das armações redondas e gigantes… os modelos do desfile do Alexandre Herchcovitch, serão a sensação… já estou aguardando a venda. Produzidos pela Mykita, empresa especializada em aros em aço inoxidável, a mesma responsável por aqueles dourados usados pela Sarah Jessica Parker em Sex and the City 2. A inspiração é no arquiteto e pintor francês Le Corbusier. Com os nomes cagados de Aritana e Atiara, os dois modelos são arredondados. A única diferença é que o primeiro tem a linha superior mais reta em comparação ao segundo. O verão não trouxe nada que já não tenhamos visto, de algum modo, pois, como é sabido, a moda é uma releitura, de tempos em tempos, de aspectos e costumes do passado ou uma tentativa de criação dum futuro, surreal.
E que venha o verão.