Depois de um magnífico começo com Gucci e Fendi e o desfile da Prada que não agradou gregos e troianos, porém sem deixar de, claro, contribuir para a moda, nos encontramos novamente aqui para acompanhar as novidades da moda 2011. Já comentamos da Dolce & Gabbana que apareceu no terceiro dia do evento, e nesse mesmo dia houve a apresentação da coleção de Donatella Versace ainda inchada por abelhas africanas.
A grife decidiu apostar no geométrico. Era uma nova leitura da arquitetura grega clássica. O próprio emblema da marca é a Medusa. Vimos uma mulher elegante, não amazona, mas divinamente elegante, imponente e escultural, como seu ícone: duma magna beleza, porém confusa, cigana, de um tipo que é feitiço. Vestidos, casacos, bolsas, tudo na pureza do branco contornado por linhas ora vermelhas e douradas, ora amarelas. Do branco, veio um vestido com padronagem em tiras multicoloridas. E assim, depois desse leve ingresso de cores, a passarela foi invadida por azul mediterrâneo, preto, nude, laranja (cor do verão, aposte!), seja num look total ou misturados em prints da “chave grega” dando um ar moderno e jovial às roupas. Ai os vestidos… arquitetônicos, recortados, favorecendo principalmente os ombros, a nova zona erógena do corpo. Claro que para Donatella, há muito mais além do que os ombros; as fendas, marca registrada da loira botocada, aparecia ou na frente ou na lateral, dependendo do comprimento dos vestidos.
Para acabar, dando 3 tapas na cara da pobreza, a direção criativa investiu no já conhecidos vestidos-deusa, que mantiveram o corpete estruturado no corpo, tecidos acetinados e as caudas com leves franjas.
A Versace, mais uma vez acertou. Com seu tema grego, de inspiração arquitetônica, mais precisamente nas casas do mediterrâneo, trouxe o frescor para o verão 2011 e mostrou o poder do design italiano e da maturidade dessa maison familiar. Com todo detalhe enérgico e noção clássica, herança desde Gianni Versace, a grife continua a antecipar a moda. A Medusa Versace permanece fascinante, ontem, hoje e amanhã, ditando o que é realmente poder.
A Etro, que também se apresentou no terceiro dia, desfilou um étnico setentista, o primeiro em estampa nas formas do segundo. Ombros à mostra (mais uma vez), macacões, hot pants e casacos. Preto e dourado, basicamente, com florais, texturas – uma peça lembrando capim dourado, incrível – tons terrosos e azuis. Uma mix coerente, talvez kitsch, mas a referência é senão exagerada.
Por falar em kitsch, o gongo da vez ficou com D&G (segunda marca da Dolce & Gabbana). Não gostei do que vi: campestre caricato, patrocinado pelo Bom Retiro com flores até no edy. Uma coisa um tanto Barbie carpinteira, algo que Paris Hilton usaria num piquenique ou pra aquendar um bofe atrás da moita.
“Florais na primavera? Que original…” – PRIESTLY, Miranda (“The Devil Wears Prada”).
Voltando a falar de coisa boa, Bottega Veneta desfilou no sábado e mostrou que simplicidade é o tom da elegância. E minha darling Freja Beha óbvio que não poderia faltar no casting da marca, que faz parte do grupo Gucci. Com uma paleta clássica e de tons neutros como o preto, nude, branco e cinza, a moda feita é prática, usual, usável e pensada para uma mulher real (e ryka).
Com vestidos descomplicados, as flats do começo do desfile já traziam essa ideia de confortabilidade agregada ao fashion. Cada vez mais a moda acompanha o pensamento coletivo de um mundo mais easy, mais prático. A leveza aparece também nos tecidos e na silhueta. E mais uma vez, modelos com o visual de “acabei de sair do banho e estou desfilando em Milão”, como visto na Colcci. Um desfile fresco, singelo, ingênuo e belo, exprimindo mais que moda, mas uma filosofia de vida do século XXI.